Participe / Participate

Participe enviando contribuições (filmes, textos, links, dicas, etc ...) para antrocine@gmail.com

Send contributions to antrocine@gmail.com

quinta-feira, 29 de março de 2012

Barricadas, Cinema e Revolução:

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) através dos Filmes.






Gritos de No Pasarán! ecoavam pelas ruas da Espanha republicana, em meio a coletividades operárias que em suas barricadas empunhavam armas para combater o golpe de estado fascista, situação esta, que redundaria um extenso conflito entre os anos de 1936 e 1939. Reportando-se à Guerra Civil Espanhola (na qual lutou), o escritor inglês George Orwell pontuou: "a espinha dorsal da resistência a Franco foi a classe operária espanhola, especialmente os membros dos sindicatos urbanos" (Recordando a Guerra Espanhola, Lisboa: Antígona, 1984. p.37). Entre estes podemos destacar a atuação dos anarquistas e suas respectivas organizações sindicais: CNT (Confederación Nacional del Trabajo) e FAI (Federación Anarquista Ibérica), que através de diversas práticas libertárias levadas a cabo no transcurso da guerra civil, tais como a coletivização de terras, possibilitaram um "curto verão da anarquia".

A Guerra Civil Espanhola acendia os desejos de Revolução Social entre segmentos das classes operárias. E nesta senda, os anarquistas, encontravam no cinema uma importante ferramenta de propaganda e ação. Um exemplo é o filme Un Pueblo en Armas (Espanha, 1937), documentário dirigido por Juan Pallejá e Louis Frank, e produzido em 1937 em meio a Guerra Civil Espanhola, pelo S.I.E. film (Sindicato de la Industria del Espectáculo, de Barcelona, ligada a CNT), destinado a ser exibido no circuito internacional, sobretudo nos EUA, com o objetivo de angariar apoio a causa antifascista. Além disso, a CNT socializou a indústria do cinema na Espanha (nominada de industria del espectáculo), possibilitando a autogestão deste setor pelos trabalhadores, numa iniciativa inédita de produções coletivas em que a hierarquia dos papéis tradicionais atrelados ao processo de produção cinematográfica foram revistos. Por sua vez, investindo em diversos gêneros (dramas, comédias, documentários) impulsionaram a produção de uma gama diversa de filmes, entre os quais o já referido Un Pueblo en Armas. Situações estas que moveram a realização em 2010 do documentário El Cine Libertario: cuando las películas hacen historia, dirigido por José María Almela e Veronica Vigil.  


Passado de lutas este, que após décadas ganhava através do cinema forma vívida. Como demonstra a produção cinematográfica de José Luis Cuerda, ambientada no cenário espanhol pré-guerra civil, intitulada A Língua das Mariposas (La Lengua de las Mariposas, 1999), que nos traz um professor e sua prática libertária. Por sua vez, outras produções merecem destaque, tais como: Libertárias (Libertarias, 1996) de Vicente Aranda, que aborda a atuação anarquista (focado na organização anarco-feminista Mujeres Libres) nas frentes antifascistas; Terra e Liberdade (Land and Freedom, 1995) de Ken Loach, centrado na participação revolucionária do P.O.U.M. (Partido Obrero de Unificación Marxista), e que se baseia na experiência do escritor George Orwell, que compôs as brigadas internacionais; Soldados de Salamina (2003) de David Trueba, que se reporta aos últimos dias da Guerra Civil Espanhola (inspirado na obra homônima de Javier Carcas); Ay, Carmela! (1990) de Carlos Saura que narra a jornada de uma Cia de teatro aprisionada pelas tropas franquistas; e O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006) de Guillermo del Toro que partindo do imaginário infantil (da personagem Ofélia), nos leva a uma viagem a Espanha dos anos 40, evidenciando grupos de milicianos antifascistas que após o fim da guerra civil, se mantiveram embrenhados nas montanhas levando a diante a resistência contra a ditadura de Franco. 

Cena do filme Libertárias




Também nos anos 90 Juan Gamero levou as telas o documentário Vivir la Utopia (1997), tratando das experiências anarco-sindicalistas e anarco-comunistas realizadas durante a Guerra Civil Espanhola, e reavivadas através dos relatos de militantes libertários sobreviventes do conflito. 

E se por um lado à revolução pelas armas fracassou, por outro a história daqueles que acreditaram um dia poder mudar o mundo, ainda gravita, quer seja através de uma tela de cinema ou em utopias do dia-a-dia, pois a vida urge...
Cleber Rudy
Historiador e cinéfilo
*Agradeço ao companheiro Juliano Gonçalves da Silva pelas contribuições.








Artigos relacionados: 
Postagens relacionadas:
 http://www.antrocine.blogspot.com.br/2013/04/somos-as-imagens-que-vemos.html 

Nenhum comentário:

Postar um comentário